Você Ainda Está Tentando Montar um Cavalo Morto?

Texto sobre a visão finita e infinita ao administrar um negócio na Odontologia

Francisco Rehder

5/4/20257 min ler

close-up photography of brown horse
close-up photography of brown horse

Você Ainda Está Tentando Montar um Cavalo Morto?

Existe uma metáfora que circula há décadas no mundo corporativo, conhecida como a Teoria do Cavalo Morto, é uma satírica desconfortável, ao ponto trazer uma boa reflexão sobre os negócios. Basicamente ela diz o seguinte: “Quando você percebe que está montado em um cavalo morto, a melhor estratégia é descer." Simples, direto e dolorosamente real.

Curiosamente, o que mais vemos em muitas marcas, instituições e, sim isso também afeta o mundo da Odontologia (seja nas indústrias, nas dentais e até em decisões pessoais daqueles profissionais autônomos) é justamente o oposto: a insistência em seguir adiante com projetos, produtos ou modelos de negócio que claramente já não têm mais vitalidade.

No meu dia a dia, dentro do meu microuniverso que é a Odontologia eu visito vários negócios; várias indústrias e clínicas de Odontologia e vejo corriqueiramente reclamações e análises que visivelmente tentam fazer algo pelo cavalo.

Metaforicamente fazendo alusão à Teoria do Cavalo Morto, as reações mais comuns incluem:

  • contratar consultores para reviver o cavalo;

  • investir em novas selas e arreios;

  • criar comitês para estudar o cavalo;

  • comparar o cavalo com outros cavalos mortos no mercado;

  • E até mesmo, pasmem, promover o cavaleiro por sua “resiliência”.

Mas tudo isso só posterga o inevitável; nesse contexto, recentemente aprendi em um livro incrível chamado o Jogo do Infinito é que quando o pensamento aplicado ao negócio é finito, o cavalo é mantido vivo artificialmente.

Se você pensar na raiz do motivo pelo qual o seu negócio, indústria, dental ou clínica vai mal verá que muitas vezes o problema pode estar enraizado no que Simon Sinek chama de pensamento finito — uma mentalidade focada em vencer, bater metas de curto prazo e evitar mudanças disruptivas.

Na prática, uma clínica odontológica gerida com pensamento finito se parece com um negócio que está sempre correndo atrás do próprio rabo. É aquela clínica onde a lógica dominante é “bater a meta do mês”, “fechar mais orçamentos que o concorrente”, “encher a agenda de qualquer jeito”. Tudo bem, isso pode até funcionar, mas funcionará por algum tempo, sua longevidade tende a ser finita. Abaixo, vou listar alguns sinais e sintomas comuns de uma gestão odontológica baseada no modelo finito, talvez seu negócio esteja descrito em algumas delas (e se estiver, muita atenção!).

1. Foco excessivo no curto prazo

Tudo gira em torno do mês atual: preencher a agenda e bater a meta de faturamento da clínica é o objetivo e foco do mês vigente. Isso pode parecer eficiente, mas impede a construção de um posicionamento sólido e sustentável.

Exemplo: A clínica faz promoções agressivas para atrair pacientes, mas sem se preocupar com o valor percebido da marca ou a fidelização no longo prazo.

2. Comparação constante com outras clínicas

A clínica finita vive monitorando o que o concorrente está fazendo: “Ah, o vizinho começou a anunciar clareamento por R$ 499, precisamos igualar!”. O problema é que esse tipo de comparação promove decisões reativas e não estratégicas.

Resultado: Uma corrida para baixo, onde o diferencial desaparece e o preço vira o único argumento. Se seu diferencial é preço, sempre, lembre-se, sempre existirá alguém mais barato.

3. Tomada de decisões baseada no medo

Medo de perder pacientes, medo de não fechar o orçamento; de trocar de software, de mudar o posicionamento, de cobrar o preço justo. O medo paralisa a inovação e a reinvenção do modelo de negócio.

Reflexo disso: Manutenção de uma gestão sem indicadores, insistência em processos manuais, resistência ao marketing digital ou a qualquer investimento que traga clareza e indicadores que irão auxiliar na tomada de decisão.

4. Estratégia pautada em “vencer” e não em “permanecer”

A mentalidade finita enxerga a gestão como uma corrida com linha de chegada. Mas, na saúde — especialmente na odontologia — não há linha de chegada. O jogo é infinito: o desafio é continuar relevante, útil e confiável ao longo do tempo.

Reflexo disso: muitas clínicas balizam o sucesso no nível de faturamento e muitas vezes chegam ao “final da corrida” no prejuízo. Faturamento é importante, mas ter clareza sobre fluxo de caixa e capital de giro são relevantes para definir balanço da empresa.

5. Liderança voltada para controle, não para cultura

A liderança da clínica finita cobra produtividade o tempo todo, mas não constrói cultura. Os colaboradores trabalham sem entender o “porquê” das coisas, apenas o “como” e o “quanto”.

Resultado: Alta rotatividade de funcionários, clima organizacional tóxico, e queda na qualidade da experiência do paciente.

Se você se identificou com algum dos exemplos acima, talvez seja hora de descer do cavalo morto e isso exigirá de você mais do que visão. Exigirá coragem. A coragem de encerrar ciclos, de admitir erros e, principalmente, de abrir espaço para novas possibilidades. Partir para um novo jogo onde o objetivo não é vencer, mas continuar jogando com propósito. Se você é gestor de uma clínica, diretor de uma empresa, vale se perguntar: Você está gerindo para o mês… ou para os próximos 5, 10 anos? Talvez, a pergunta a pergunta que fica é: Você quer crescer rápido… ou crescer para sempre?

Três aprendizados que ficam:

  1. Reconheça cedo os cavalos mortos. Nem todo projeto falho é falta de competência — às vezes é apenas o ciclo natural das coisas. Mas ignorá-lo é escolha.

  2. Adote o pensamento infinito. Sua empresa, sua clínica não precisa "vencer", ela precisa permanecer relevante. Entenda, esses conceitos são completamente distintos.

  3. Tenha coragem para mudar. Encerrar algo não é fracassar, é criar espaço para o novo.

Mas o que muda com o pensamento infinito?

Quando o dono de uma clínica adota o pensamento infinito, ele deixa de jogar para “vencer” e começa a jogar para “permanecer no jogo” e construir a marca ou seu legado. As decisões passam a ser baseadas em propósito, visão e valor de longo prazo. A clínica deixa de ser apenas uma prestadora de serviços odontológicos e passa a ser uma marca que precisa transmitir significado para com seu público e sua comunidade.

Três reflexões para aplicar o pensamento infinito na sua clínica:

1. Por que sua clínica existe além do lucro? (Dica: “reabilitar sorrisos” “promover a prevenção como filosofia” é o como, não o porquê.)

2. Sua equipe entende e compartilha esse propósito?
Gente que não entende o propósito apenas executa tarefas. Gente alinhada com o propósito constrói futuro.

3. Quem é meu público-alvo? ter clareza sobre quem é seu público certamente irá se alinhar com seu propósito e a chance de ser relevante.

4. No que eu realmente sou bom? Você tem clareza sobre o que você realmente faz bem (não é o que gera dinheiro); mas o que você faz bem!

5. Você está preparado para abandonar o que “funcionava” se isso já não fizer sentido?
Porque continuar montado em um cavalo morto é desperdiçar energia que poderia ser usada para criar o próximo ciclo de crescimento.

Quando o objetivo não é vencer, e sim permanecer relevante, confiável e gerando valor ao longo do tempo. Não se trata de uma corrida com linha de chegada, mas de uma jornada contínua com propósito claro. Abaixo deixo alguns insights de como uma mentalidade infinita pode ser aplicado à sua clínica.

1. Clareza de Causa Justa

Simon Sinek defende que no pensamento infinito, tudo começa com uma "causa justa" — um propósito tão forte que vale a pena lutar por ele a longo prazo. Confesso que esse conceito é algo muito particular e que você deve encontrar o seu, mas para ajudar vou deixar um exemplo se estivéssemos por exemplo falando de uma clínica de pediatria.

“Queremos tornar o cuidado bucal das crianças da nossa cidade acessível e digno, promovendo saúde antes mesmo de tratar a doença.”

Essa causa orienta decisões maiores: o tipo de atendimento, a linguagem da comunicação, o modelo de precificação e até as parcerias que a clínica fará.

2. Inovação Contínua, Não Só Quando Dói

Em vez de só buscar a inovação quando o faturamento cai, a clínica infinita tem compromisso constante com a evolução, mesmo quando tudo vai bem.

Exemplo: A clínica investe no entendimento da jornada do paciente mesmo antes da demanda crescer, treina a equipe em atendimento humanizado, e atualiza seus protocolos constantemente para garantir sempre a melhor experiência possível.

3. Equipe Aliada e Alinhada ao Propósito

No jogo infinito, as pessoas da equipe não são peças substituíveis — são parceiras na missão. A clínica investe em cultura, capacitação e senso de pertencimento.

Exemplo: A recepcionista entende o propósito da clínica tanto quanto o dentista. Todos participam de reuniões mensais onde contribuem com melhorias e celebram pequenos progressos.

4. Tomada de Decisão com Base na Longevidade, Não Apenas na Rentabilidade

No pensamento infinito, algumas decisões não dão retorno imediato, mas sustentam a relevância da clínica no tempo.

Exemplo: A clínica recusa fazer campanhas agressivas com preços "chamariz" que atrairiam público sem perfil de fidelização. Em vez disso, trabalha branding, conteúdo educativo e parcerias, mesmo que isso leve mais tempo para converter.

5. Foco em Relacionamentos, Não Apenas em Fechamento

Enquanto a mentalidade finita foca em “fechar o orçamento”, o pensamento infinito se concentra em criar relações duradouras com os pacientes.

Exemplo: A clínica implementa um programa de acompanhamento pós-tratamento. Promovendo o cuidado com a carteira de clientes e atuando para que estes sejam geradores de demanda como embaixadores da marca.

Dentistas e gestores que adotam o pensamento infinito param de competir por preço e passam a competir por propósito, experiência e valor real entregue aos seus clientes. Eles não ficam obcecados por ganhar da clínica do lado — porque estão ocupados demais construindo algo que vai durar.